segunda-feira, 2 de março de 2015

Entrevista B.J.V.R.A.S. - Prof. Dr. Carlos Larsson


            Publicado no volume 51, nº 1 de 2014, do Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, o artigo de revisão Sinais dermatológicos clássicos na medicina veterinária, do Prof. Dr. Carlos Eduardo Larsson teve ótima receptividade e grande repercussão, que se reflete no alto número de downloads do artigo. Sendo assim, o BJVRAS foi conversar com o Prof. Larsson sobre essa repercussão e conhecer mais sobre a história do autor e do tema.



BJVRAS - Há quanto tempo o Sr. Pesquisa sobre o tema do artigo?

Prof. Dr. Carlos Eduardo Larsson - Na verdade, os “sinais dermatológicos clássicos”, desde que me iniciei na dermatologia veterinária, há cerca de 40 anos, passaram a fazer parte do meu cotidiano. No diário da clínica, no seu senso lato, muitos são pesquisados, buscados amiúde tal como os clássicos “sinais de Godet” ou da “pele encabidada”, de forma quase que obrigatória no exame físico do paciente.
Eram poucos, nas décadas de 70 e 80, os médicos veterinários que se dedicavam com maior afinco à dermatologia. No Estado de São Paulo, na verdade, eram apenas dois, militando na UNESP e na USP, em municípios relativamente distantes.
As dúvidas e inquietações geradas pela escassez de livros e de colegas que permitisse o “intercambio” de experiências levaram-nos a frequentar serviços e departamentos voltados à dermatologia humana. Eu, pessoalmente, passei pelos Departamentos de Dermatologia da FMVZ/USP e da hoje UNIFESP, chefiados, respectivamente, pelos saudosos Professores Sebastião de Almeida Prado Sampaio e Raymundo Martins de Castro, ambos com estreitos vínculos com a medicina veterinária. O primeiro, pai de ex-aluna da FMVZ-USP, e, o segundo, filho do professor Abílio Martins de Castro, ex-docente da vetusta então FMV/USP. A frequência semanal àqueles Departamentos, com centenas de atendimentos diários, propiciou-me a possibilidade de rápido aprendizado, mostrando-me como deveria “ver”, “enxergar” as lesões cutâneas elementares, desvendar os segredos do diagnóstico, embasado no exame dermatológico de “per se” e, ppl/e, evidenciar os “sinais” dermatológicos, sempre presentes, mas que passam desapercebido por aqueles que se iniciam na “especialidade das especialidades”. A evidenciação desses sinais passou a ser uma segura ferramenta na semiotecnica do exame tegumentar.

BJVRAS - Qual a relevância do estudo?

C.E.L. - O estudo e a caracterização desses “sinais” facilitam em muito o estabelecimento do diagnóstico. A simples inspeção direta e a palpação permitem que se estabeleça a presunção diagnóstica sobre a dermatopatia, sugerindo inclusive a etiologia da enfermidade. É de tamanha relevância que são, praticamente, cinquenta os sinais já descritos na dermatologia humana e isto já de há muito tempo. A evidenciação dos sinais poupa até o tempo dispendido pelo clínico para a minimização do sofrimento do paciente e da angústia de seus aflitos proprietários

BJVRAS - Houveram contribuições ou foi um trabalho de cunho pessoal?

C.E.L. - Na rotina da clínica inexiste algo apenas pessoal, individual ou do “eu”, sem concurso de outros, mesmo de acadêmicos dos cursos de graduação, sempre inquietos e inquisidores levando o professor em ter sempre respostas condizendo plausíveis aos “porque”, “como o senhor sabe”? “porque isso ocorre”? . Não deixa de ser prazeroso, levando a uma satisfação toda pessoal, a caracterização rápida da causa, da evolução, da prognose da enfermidade, seja ela boa ou má, alicerçada na caracterização do “sinal”.
Infelizmente nem todos, mesmo com eles tão presentes e evidentes, conseguem detectá-los.
Pessoalmente, a partir do entendimento da valia da dermatologia comparada, passei a busca-los, colecionando-os, anotando-os, os confirmando pela repetição de seu achado em pacientes acometidos por uma mesma enfermidade ou quadro sindrômico.

BJVRAS - A que o senhor atribui o sucesso do artigo?

C.E.L. - É bem difícil entender e explicar esse pressuposto “sucesso” (SIC). Quiçá, a aparente simplicidade da busca e da caracterização do sinal dermatológico, ou seja, “enxergar” o que “se vê” ou “se palpa” de forma comezinha. Ou, ainda, a magnitude da frequência de seu achado na rotina da clínica e, finalmente, o fato de serem bem poucos aqueles que a eles se dedicaram e sobre eles escreveram. Realmente, é difícil julgar o tal “sucesso”... que, se diga de passagem, também a mim surpreendeu.

BJVRAS - Como o Sr. entende a importância da revista como meio difusor de conhecimentos acadêmicos ?

C.E.L. - A “Brazilian Journal” sempre foi e continua sendo “A Revista”, pelos seus pioneirismos, qualidade, estima dos “mais velhos” ao veiculo que sempre caminhou junto, pari passu, com a evolução da “Faculdade”. Nela publicar foi e continua sendo um misto de desafio e prazer seja ela menos ou mais “qualisada”, segundo as mutáveis e até insólitas qualificações.

O meu entendimento de sua importância foi o que me levou, prontamente, a aceitar ao aceno da possibilidade de publicar artigo desse naipe, que foge do “moderno”, do “passageiro”, “da transitoriedade e da efemeridade” de outros artigos, sem qualquer preconceito ou menosprezo a eles. A Brazilian é e continuará a ser “a revista”, mormente com o esforço de tantos que hoje a ela se dedicam com o fito de consolidá-la como periódico de escola.

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